Pages

Subscribe:

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Farrapo


Esse nome, criado pelo desprezo, foi nobilitado pela glória; a inevitável glória da justiça do Tempo transformou o epíteto injurioso em título de suprema honra.
Eram desgraçados, sim, eram pobres, eram maltrapilhos, aqueles guerreiros que, para não morrer de fome, contentavam-se com um bocado de carne crua; acampavam e dormiam ao relento, com a face voltada para as estrelas; não tinham dinheiro, nem uniforme, e não podiam renovar as botas e os ponchos que o pó da estrada, as balas, as cutiladas, as chuvas estraçalhavam e apodreciam; - mas prezavam o seu nome de “Farrapos”, e tinham o orgulho da sua pobreza; - e eram mais ricos assim, possuindo apenas o seu cavalo, a sua garrucha, a sua lança e a sua bravura...
Cenobitas da religião cívica, anacoretas da guerra, vivendo no imenso e fúlgido ascetério do pampa, esses primeiros criadores da nossa liberdade política não olhavam para si: olhavam para a estepe infinita que os cercava, para o infinito do céu que os cobria, - e nesses dois infinitos viam dilatar-se, irradiar e vencer no ar livre o seu grande ideal de justiça e de fraternidade.

Olavo Bilac

1 comentários:

Cicero disse...

Não é bem comentário o que farei, Mila, mas uma solicitação. Gostaria de ter a fonte do texto que publicaste com assinatura do Bilac. Aguardo, no endereço cgul@cpovo.net. Grato. Cicero.

Postar um comentário